Por: Andreia Martins
Percurso da Escola ADEVIC e
seus objetivos
As diferenças nos seres humanos foram vistas sempre de
forma diferente ao longo dos tempos. Com o passar dos anos a sociedade
conscientizou-se e foram ganhando terreno visto que muitas pessoas e também
instituições e organizações governamentais e não-governamentais quiseram
prestar solidariedade as pessoas ditas diferentes.
É com este intuito que emerge a Associação dos
Deficientes Visuais de Cabo Verde (ADEVIC) que é uma ONG (organização não
governamental), mas com a aprovação do governo. Tem como principal objetivo a
defesa dos direitos dos deficientes visuais de Cabo Verde.
A ADEVIC ganhou o estatuto formal em 1993 após ter
sido criada numa assembleia-geral reunida no dia 21 de Maio de 1993.
Encontra-se inscrita no cartório notarial da Praia com o Nº 4394 no livro de
notas para escrituras diversas, números 70/A, folhas 97 e 100verso9. Possui personalidade
jurídica reconhecida por despacho ministerial, de 22 de Fevereiro de 1993, e os
seus estatutos publicados no B.O Nº47 de 22 de Fevereiro de 1993.
Com a sua sede
e direção nacional situadas na cidade da Praia, ilha de Santiago, os órgãos
nacionais da ADEVIC são a assembleia-geral, direção nacional e conselhos. A
ADEVIC contempla a sua direção nacional na Praia, uma direção regional em São
Vicente e filiais em Santo Antão, Fogo, Sal, São Nicolau e Estados Unidos da
América. A sua finalidade é conseguir criar representantes em todas as ilhas de
Cabo Verde.
Desde 2003 a ADEVIC possui um espaço próprio situado
em Achada São Filipe, Praia mais precisamente no Centro Nacional de
Reabilitação de Deficientes (CNRD). Seu principal objetivo é a escolarização
básica (1ª a 6ª classe), o que tem vindo a ser uma marca registada da
associação. Com o intuito de promover a integração, a associação recebe também
alunos sem deficiências visuais como forma de proporcionar a troca de
experiências e implementar uma política de ensino integrado, acompanhando assim
a moderna abordagem educacional.
Dadas as diversas limitações da escola, de início a
formação profissional incidia sobretudo na área de telefonista/rececionista,
mas com o passar dos tempos introduziu-se também a música, o artesanato e a
informática perspetivando um futuro próximo a introdução de áreas tais como:
professorado, fisioterapia, trabalhos manuais e carpintaria.
Atuação da ADEVIC
perante os deficientes visuais
A associação tem apoiado os seus estudantes com
material didático específico nomeadamente máquinas Braille, pautas, cubaritmos,
gravadores, cassetes. Recebem também apoio técnico pedagógico e aos que não
trabalham atribuem uma bolsa de estudos.
A ADEVIC vê a formação profissional como forma de
preparar o deficiente para o mercado de trabalho, mas também reconhecer a
importância do domínio de uma profissão para uma correta inserção social. É de
salientar que alguns alunos já foram formados na escola em parceria com
instituições tanto nacionais como internacionais, e que destes alguns encontram-se
no mercado de trabalho. Para aqueles que não possuem condições de enfrentar o
mercado de trabalho a ADEVIC financia atividades geradoras de rendimento, como
pequenas mercearias. Para as famílias mais carenciadas a ADEVIC fornece apoio
em sentido material, géneros alimentícios, ajuda médica medicamentosa, compra
de óculos etc.
Projeto “Cabo
Verde Vai Ver Melhor os Cegos”
Segundo o presidente da Associação dos Deficientes
Visuais de Cabo Verde, Manuel Júlio Rosa, o “Cabo Verde Vai Ver Melhor os Cegos”
criou ferramentas que permitem defender os direitos das pessoas com deficiência
visual em vários setores. Este projeto visa promover e garantir o respeito dos
direitos dos cidadãos com deficiência visual como cidadãos consumidores. O
projeto que teve início em 2013 e terminou em Junho deste ano, contribuiu para
que as pessoas com deficiência visual soubessem e conhecessem melhor os seus
direitos e deveres, em relação à procura de emprego, educação, formação, acesso
a informações e a certas localidades que lhes permitam trabalhar, estudar e
construir uma família.
De acordo com este responsável, o projeto concluiu
também que há necessidade de se sensibilizar os detentores de cargos políticos,
de modo a criarem leis e regulamentos que possam colaborar com a ADEVIC na
linha da inclusão. Para Manuel Júlio Rosa, para que possam realmente atingir os
objetivos que são os direitos dos consumidores, é preciso também que os
operadores económicos estejam sensibilizados e preparados não só para
reconhecer a importância que as pessoas com deficiência visual têm no
desenvolvimento do país, mas também em relação a intervenção no mercado de
trabalho, na sociedade e em todas as vertentes sociais.
No seu entender, a mesma criou oportunidades para
consolidar melhor o conceito da inclusão, que é um processo lento, complexo, e
que exige recursos humanos, materiais e meios. Apesar dos avanços, Manuel Júlio
Rosa indicou que essas pessoas são ainda confrontadas com dificuldades em vários
setores, como o acesso a bolsa de estudos, emprego e apoio para atividades
geradoras de rendimento. O presidente da associação ADEVIC salientou ainda que
com o fim do projeto e sem possibilidade nem meios, estão trabalhar com essas
ferramentas e dar continuidade ao projeto a nível do país, através de contatos,
informações e sensibilização junto dos setores políticos e operadores
económicos. O projeto custou 300 mil euros que foi financiado pela União
Europeia.
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