terça-feira, 15 de novembro de 2016

Um olhar diferente para com os deficientes visuais

Por: Andreia Martins
Percurso da Escola ADEVIC e seus objetivos
As diferenças nos seres humanos foram vistas sempre de forma diferente ao longo dos tempos. Com o passar dos anos a sociedade conscientizou-se e foram ganhando terreno visto que muitas pessoas e também instituições e organizações governamentais e não-governamentais quiseram prestar solidariedade as pessoas ditas diferentes. 
É com este intuito que emerge a Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde (ADEVIC) que é uma ONG (organização não governamental), mas com a aprovação do governo. Tem como principal objetivo a defesa dos direitos dos deficientes visuais de Cabo Verde.
A ADEVIC ganhou o estatuto formal em 1993 após ter sido criada numa assembleia-geral reunida no dia 21 de Maio de 1993. Encontra-se inscrita no cartório notarial da Praia com o Nº 4394 no livro de notas para escrituras diversas, números 70/A, folhas 97 e 100verso9. Possui personalidade jurídica reconhecida por despacho ministerial, de 22 de Fevereiro de 1993, e os seus estatutos publicados no B.O Nº47 de 22 de Fevereiro de 1993.
 Com a sua sede e direção nacional situadas na cidade da Praia, ilha de Santiago, os órgãos nacionais da ADEVIC são a assembleia-geral, direção nacional e conselhos. A ADEVIC contempla a sua direção nacional na Praia, uma direção regional em São Vicente e filiais em Santo Antão, Fogo, Sal, São Nicolau e Estados Unidos da América. A sua finalidade é conseguir criar representantes em todas as ilhas de Cabo Verde.
Desde 2003 a ADEVIC possui um espaço próprio situado em Achada São Filipe, Praia mais precisamente no Centro Nacional de Reabilitação de Deficientes (CNRD). Seu principal objetivo é a escolarização básica (1ª a 6ª classe), o que tem vindo a ser uma marca registada da associação. Com o intuito de promover a integração, a associação recebe também alunos sem deficiências visuais como forma de proporcionar a troca de experiências e implementar uma política de ensino integrado, acompanhando assim a moderna abordagem educacional.
Dadas as diversas limitações da escola, de início a formação profissional incidia sobretudo na área de telefonista/rececionista, mas com o passar dos tempos introduziu-se também a música, o artesanato e a informática perspetivando um futuro próximo a introdução de áreas tais como: professorado, fisioterapia, trabalhos manuais e carpintaria.
Atuação da ADEVIC perante os deficientes visuais
A associação tem apoiado os seus estudantes com material didático específico nomeadamente máquinas Braille, pautas, cubaritmos, gravadores, cassetes. Recebem também apoio técnico pedagógico e aos que não trabalham atribuem uma bolsa de estudos.
A ADEVIC vê a formação profissional como forma de preparar o deficiente para o mercado de trabalho, mas também reconhecer a importância do domínio de uma profissão para uma correta inserção social. É de salientar que alguns alunos já foram formados na escola em parceria com instituições tanto nacionais como internacionais, e que destes alguns encontram-se no mercado de trabalho. Para aqueles que não possuem condições de enfrentar o mercado de trabalho a ADEVIC financia atividades geradoras de rendimento, como pequenas mercearias. Para as famílias mais carenciadas a ADEVIC fornece apoio em sentido material, géneros alimentícios, ajuda médica medicamentosa, compra de óculos etc.     

Projeto “Cabo Verde Vai Ver Melhor os Cegos”
Segundo o presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde, Manuel Júlio Rosa, o “Cabo Verde Vai Ver Melhor os Cegos” criou ferramentas que permitem defender os direitos das pessoas com deficiência visual em vários setores. Este projeto visa promover e garantir o respeito dos direitos dos cidadãos com deficiência visual como cidadãos consumidores. O projeto que teve início em 2013 e terminou em Junho deste ano, contribuiu para que as pessoas com deficiência visual soubessem e conhecessem melhor os seus direitos e deveres, em relação à procura de emprego, educação, formação, acesso a informações e a certas localidades que lhes permitam trabalhar, estudar e construir uma família.
De acordo com este responsável, o projeto concluiu também que há necessidade de se sensibilizar os detentores de cargos políticos, de modo a criarem leis e regulamentos que possam colaborar com a ADEVIC na linha da inclusão. Para Manuel Júlio Rosa, para que possam realmente atingir os objetivos que são os direitos dos consumidores, é preciso também que os operadores económicos estejam sensibilizados e preparados não só para reconhecer a importância que as pessoas com deficiência visual têm no desenvolvimento do país, mas também em relação a intervenção no mercado de trabalho, na sociedade e em todas as vertentes sociais.
No seu entender, a mesma criou oportunidades para consolidar melhor o conceito da inclusão, que é um processo lento, complexo, e que exige recursos humanos, materiais e meios. Apesar dos avanços, Manuel Júlio Rosa indicou que essas pessoas são ainda confrontadas com dificuldades em vários setores, como o acesso a bolsa de estudos, emprego e apoio para atividades geradoras de rendimento. O presidente da associação ADEVIC salientou ainda que com o fim do projeto e sem possibilidade nem meios, estão trabalhar com essas ferramentas e dar continuidade ao projeto a nível do país, através de contatos, informações e sensibilização junto dos setores políticos e operadores económicos. O projeto custou 300 mil euros que foi financiado pela União Europeia.


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